Tenho dito algumas
vezes que se existe perigo de colapso no momento não é da estrutura
física da Terra, essa independe de nossa vontade está seguindo o seu ciclo. Por isso, natural. O perigo está nas
estruturas frágeis de nossa civilização, a começar pelo sistema
econômico, onde se percebe os verdadeiros abalos que podem nos
impulsionar a mudanças radicais, quem sabe uma dessas mudanças seja
a nossa maneira de relacionamento com nosso meio natural.
Vejam, que construímos
um mundo a parte de um outro mundo que existe independente de nós
humanos, porém, é o que nos sustenta. Não soubemos nos relacionar
em harmonia e integrados com esse mundo verdadeiro de bases sólidas
e engrenagem perfeita, o trocamos por um modelo de vida baseado em
ilusões, sendo a principal delas a de termos domínio sobre esse
pequeno globo que vive na órbita de uma linda estrelinha chamada
Sol.
Vivemos por alguns
poucos séculos, principalmente no último, consumindo
desenfreadamente nosso meio de vida - os recursos do planeta - sem
nos importar com as consequências. Tudo em nome de um sistema econômico
que estava fadado ao fracasso desde o início. É bom lembrar
que desse consumo exagerado boa parte de nossa civilização esteve a margem, pois, para que
todos aqui na Terra consumissem no mesmo padrão como o da chamada
classe média, seria necessário uns quatro planetas para serem consumidos e destruidos.
Marx e Engel e outros pensadores já falavam desse possível colapso. No famoso Manisfesto
Comunista tem um trecho que considero profético, se vemos
profecia como um senso de observação aguçada que nos faz
vislumbrar o que teremos a frente. Nele diz:
“Tudo o que é sólido
se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas
são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição
social e suas relações recíprocas”.
A solidez ao qual fazia
referência era a das ideologias tão enaltecidas e
preservadas em determinados momentos, as formas de governar, aos
modos de produção e estruturas que pensamos serem sólidas. A
história mostra que todas rompem-se e caem. Para eles, com o
capitalismo não seria diferente, teria um ciclo que como de todos os
anteriores chegaria ao seu final. Como vemos, vivemos de ciclos
fechados que se esgotam em si mesmo. Falei disso no post anterior,
Reaprendendo com as estrelas.
O erro desses
pensadores foi pensarem na época que o sistema já estava morrendo e
seria trocado por outro que chamaram de socialismo. Só que o capitalismo ainda tinha muito fôlego, duraria enquanto
tivesse o que consumir, sendo esse o princípio pelo qual baseia
sua estrutura: Consumir, consumir, consumir, em uma cadeia que devora
a si mesmo.
Dando continuidade
implantou-se em um certo momento a ilusão que consagrou o delírio
pelo Ter e nele concentrou-se o Poder. Quem mais tem, obtém o
Poder. Querer é Poder, não importando o que se queira. Então, na
desenfreada modernidade, tinha-se que querer cada vez mais coisas,
para alimentar a rede devoradora até o ponto de transformar tudo em
supérfluo.
Para aumentar as
possibilidades de consumo que não se sustentava mais em objetos,
começou na pós-modernidade o consumo de
conceitos, ideias, pensamentos, levando a um culto ao narcisismo e ao
corpo. Não a saúde, mas a conceitos forjados de beleza que como
tudo se desmanchava a cada estação. Nesse ponto a vida
tornou-se superficial, até mesmo as relações humanas ficou ao
nível da banalidade. Sem firmes alicerces fica mais fácil derrubar
construções para colocar outra no lugar.
Mesmo assim, precisava de mais velocidade, essa é a palavra-chave na sociedade da informação. A informação passou a ser mais uma mercadoria de
grande escala de consumo. Não precisa saber, não precisa entender,
não precisa pensar, é só consumi-la e achar que se sabe alguma
coisa.
A relação com o tempo
muda e as relações entre pessoas passaram a se desenvolver em
outras plataformas.
Nesse ponto o sistema
caiu em uma armadilha, porque ao contrário do que propagava, o poder
durante todas as épocas da história conhecida, nunca
esteve nas mãos de quem tinha mais posses, mas sim, nas
mãos dos detentores dos meios de acesso as informações e ao
conhecimento. Sempre foi assim, desde o início da escrita. Mas, essa
é outra história que talvez insira em meu blog qualquer dia.
Voltando ao início,
exatamente agora que existe um colapso anunciado no sistema econômico, a Terra apresenta de forma mais acentuada as alterações climáticas. Será coincidência?
Mesmo que existam divergências entre
cientistas do quanto colaboramos para isso, o certo é que estamos
sofrendo as consequências desse mal relacionamento com o meio
ambiente. Fomos no mínimo incapazes de manter uma integração com
ele para nos adaptar aos seus ciclos.
Nesse momento também,
o acesso a informação que foi disseminado aos quatro ventos, deu origem as redes sociais, onde vemos de tudo, inclusive pessoas com
afinidades de pensamentos ao redor do mundo passando novos conceitos
e organizando movimentos.
Elas já deram sinais de que não são fogo de palha, e mais um exemplo está sendo dado com
os protestos contra Wall Street que se propagam pelos Estados Unidos
e já cruzam o oceano Atlântico. Na Europa encontrará muito
combustível para grandes explosões, onde países como a Grécia,
Espanha, Portugal e Itália já enfrentam sérios riscos de um
colapso econômico. Na Alemanha os protestos já estão sendo
marcados.
A solidez desse sistema
está evaporando pelo ar, não pelas chaminés das fábricas, como as
imagens sugeridas pelos seus questionadores no século passado, mas
pelo seu esgotamento e pela disseminação binária.
Como no conto de
Matrix, a realidade está começando a permear as consciências
humanas, gerando muita confusão de ideias, incomodos e medos desconhecidos. Caso isso aconteça que não teremos muitas escolhas, como não tiveram milhares de
seres que viveram em condições de miséria em nosso planeta devido
as desigualdade implantadas por esse sistema. A pilula vermelha será
enfiada goela abaixo! Só resta saber como reagiremos, como
enfrentaremos essas mudanças que irá terremotar nossas estruturas.
Espero que a outra frase desse texto se tranforme em realidade:
“e as pessoas são
finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e
suas relações recíprocas”, incluiria aqui: e com o seu meio
ambiente.
Que a solidariedade e a lucidez finalmente se faça presente!
Deixo aqui um trecho da Declaração de Ocupação de Wall Street, onde diz o seguinte:
"Unidos como povo, reconhecemos a realidade: que o futuro da raça humana
exige a cooperação de seus membros; que nosso sistema deve proteger
nossos direitos e que, ante a corrupção desse sistema, resta aos
indivíduos a proteção de seus próprios direitos e daqueles de seus
vizinhos; que um governo democrático deriva seu justo poder do povo, mas
as corporações não pedem permissão para extrair riqueza do povo e da
Terra; e que nenhuma democracia real é atingível quando o processo é
determinado pelo poder econômico".
Ou será que esse
sistema ainda tem mais algum gás para ser queimado? Veremos!
E aqui a música We Are The 99%, de Jeremy Gilchrist,
que se torna um hino do movimento de ocupação de Wall Street.