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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A água nossa de cada dia - Cartas Suplicantes (Tietê)




Em breve enfrentaremos um problema sério, a água nossa de cada dia não estará tão disponível em nossas torneiras.

A questão é como enfrentaremos esse problema, acostumados como estamos com essa comodidade que a vida moderna nos trouxe: ter água dentro de casa, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Tão natural que nem lembramos que há  pouco tempo não era tão simples assim.

Fico imaginando as brigas que pode gerar e a corrida pela busca do culpado por esse incomodo.

Existe um Governo que deveria ter um planejamento para evitar esse problema? Sim, existe e tem responsabilidade sobre ele. Porém, o grande culpado somos nós. Todos nós que não valorizamos a Graça de podermos, nos dias de hoje,  tomar um copo com a água que encontramos dentro de nossas  casas. É. Não precisamos mais  pegá-la em um rio distante ou em um poço no quintal. Somos responsáveis sim, por não a valorizamos e a utilizarmos de forma irresponsável.

Nós, que não sabemos agradecer a um sistema que vem bem antes dos encanamentos e das torneiras, um sistema hídrico desenvolvido durante milhares e milhares de anos por um processo natural, que poucos conseguem enxergar. 

Para nosso jeitinho egoísta de ser, tudo que existe no Planeta é para nosso consumo e lidamos  com esse tudo, como se a eternidade das coisas e das outras vidas estivessem a disposição de nossas vontades.

Uma prova de nossa incapacidade de reconhecer as vidas que nos dão vida, é ver como tratamos nossos rios. Em São Paulo  o Tietê agoniza. Sim, os rios são sistemas cheios de vida, também ficam doentes, sofrem e morrem.

Estamos tão conectados a um sistema artificial que perdemos a noção da conexão que temos com um sistema maior que nos garante a vida, até mesmo com a água. Apesar de termos um corpo constituído praticamente de água, 70% .

Não é a toa que nessa terra onde a água está para ser racionada, existe esse grande e maravilhoso rio agonizando e hoje precisando de nossa ajuda, tanto quanto precisamos da ajuda dele. Quem sabe, só assim o Tietê seja visto com outros olhos, por todos aqueles que diariamente passem ao seu entorno. Um olhar carinhoso, mais amoroso e de agradecimento por tudo que já fez por nosso Estado e ainda poderá fazer. Um olhar de compaixão que o ajude a ter forças para reagir e sobreviver.

Não sei na prática como enfrentaremos esse problema, mas por mim peço à água nossa de cada dia, que nos seja concedida e nos perdoe por toda ofensa, maus tratos e indiferença com a qual a temos tratado.

Sei que é devaneio, mas não custa sonhar, pois sei o quanto seria benéfico essa nossa reconciliação. Por isso,  vejo nesse problema a possibilidade de reaprendermos, enquanto sociedade, a valorizar um pouco mais essa vida tão necessária à nossa sobrevivência.

O resto... Bem, o resto é resto e o deixo para os especialistas de plantão, afinal, nos últimos tempos todos sabem tudo de tudo e muito de nada. ... Discutir de quem é a culpa, como será o racionamento, a crise que virá por causa disso e tudo mais, de nada adianta agora, a não ser para quem quer o caos.  O certo é que já estamos no problema e poucos são os que mudaram de atitude. Ainda desperdiçamos como se nada houvesse, até que ela seque de vez em nossas torneiras. Não precisamos de raiva infantil e mais mimimi, mas de amadurecimento e consciência nas nossas atitudes. Se não aprendermos essa pequena lição, mesmo que daqui a um tempo tudo esteja normalizado, o problema voltará. 

Deixo aqui essa música, que bem poderia tocar alguns corações como tocou o meu:

Cartas Suplicantes (Tietê)


Eu trago cartas suplicantes de um rio
 Linhas tristes muitas mágoas solidão. 
 Mesmo teimoso e corajoso sucumbiu
 já não existe as fortes águas e a canção... 
Quem outrora o festejava a banhar. 
É quem agora simplesmente nem o vê.
Mesmo deixando tanta vida no lugar.
Vive em coma e vivencia o seu morrer.
Nasce, morre e corre em chão paulista
Apontando seta pro Sertão,
Mas aquele norte futurista
Hoje pobre morre pelas próprias mãos.
As cartas que eu lhe trago ó Amazonas,
Revelam a angustia de quem não quer morrer.
E pedem ainda, não permita o grande coma.
Em quem padece o seu filho, o Tietê. 




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