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domingo, 11 de novembro de 2012

Sobre um vírus chamado medo.


“Um vírus chamado Medo”.
(caso a legenda esteja desativada é só apertar o botão vermelho)


 


Depois de ver esse documentário, reforcei ainda mais meus pensamentos sobre o medo e suas consequências em nossa sociedade. Na verdade ele tem sido um tema a me acompanhar desde que me entendo por gente. Não que seja uma pessoa medrosa, ao contrário, para poder seguir apesar de todas as adversidades, aprendi a combater os medos que estavam a minha volta e dentro de mim. Aprendi a vê-lo como um inimigo limitador  a ser combatido, uma doença, um vírus que não me pertencia.

Sou daquele tempo em que o bicho papão pegava mesmo e se não fosse ele poderia ser o homem do saco ou o chinelo de minha mãe, o mais perigoso de todos. Para piorar a história, morei dos três aos sete anos em uma rua que ficava atrás de um cemitério. Rs

Como não tinha televisão em casa e nem nas da vizinhança, a noite o povo gostava de se reunir na rua com as cadeiras na calçada. Enquanto as crianças brincavam, os causos de família eram relatados e quando era de assombração parávamos qualquer brincadeira para ouvir. rs Aquele programa de rádio, “Histórias que povo conta”, veio depois e nem me assombrava mais. Ah!! Nesse período tomei um baita choque elétrico que quase me levou para o outro mundo.  A recomendação era evitar esforço físico enquanto estivesse com a disritmia cárdica. Moral da história, fiquei com medo de correr e de outras brincadeiras que fizessem meu coração bater mais rápido. rsrs Lá sabia eu que é natural o coração acelerar durante uma corrida, mas ali quietinha ele batia sossegadamente. rs Assim, aprendi desde cedo a observar e escutar meu coração e o que estava ao meu redor.

Dos sete anos para frente foram vários os medos de outras origens. No rádio, o Gil Gomes nos remetia ao mundo real de bandidos, sequestradores, terroristas e assassinos. Naquele horário dificilmente tinha uma casa com o rádio desligado. Andando pelas ruas poderíamos escutar de casa em casa os casos que viravam assunto do dia, da semana ou do ano. 

Somando-se a ele havia o Juizado de Menores. Já não morava atrás do cemitério, mas em frente a uma escola e quando terminava o horário noturno só via o pessoal correndo para casa rapidinho, antes que o Juizado passasse na rua. Quanta corrida demos?!!!Kkk... Às vezes ficávamos na rua normalmente, em frente a nossa casa, brincando ou conversando, aí passava um correndo e gritando “Juizado. Juizado...” Num instante, como o Leão da Montanha, era só saída para a esquerda, saída para a direita e rua deserta.

Entrávamos correndo e ficávamos encolhidas, observando através do vitrô entreaberto... Era um alívio quando víamos a rua vazia... Cheguei a ver também as abordagens de policiais armados em nossa esquina. Quando isso acontecia fechávamos correndo a janela e íamos para debaixo do cobertor. Andar sem carteira profissional no bolso era extremamente perigoso, meu pai antes de sair certificava que estava com ela. Não entendia direito o que era aquilo, mas sentia falta das cadeiras nas ruas e conversas com os vizinhos durante a noite.

O tempo foi passando e cheguei na adolescência repleta de sonhos e desejos, que para aquele meu mundo eram de certa forma perigosos. Não pensava em namoro, casamento e filhos como a maioria de minhas amiguinhas. Queria mudar o mundo, queria romper limites que a vida me empunha, queria ter uma profissão. Com onze anos já tinha escolhido o jornalismo. Lembro que sobre isso uma vizinha me disse: “tua máquina de escrever vai ser um tanque” e todo mundo riu. Fiquei muito tempo sem falar com ela. Meu medo naquela época era não conseguir romper os limites que a vida me empunha.

Bem, foi justamente nesse período de adolescente que ia mudar o mundo, que um filme me levou a pensar conscientemente sobre o medo. Hoje percebo o quanto ele me ajudou a quebrar minhas  barreiras. De fato, consciência é tudo!

O filme foi 1984... Era um feriado de 1974, período da tarde, eu sozinha na sala, pois ninguém conseguiu acompanhar e ainda tive que brigar para não mudarem de canal. Depois do filme, quase que hipnotizada me sentei no muro e fiquei olhando a Serra do Mar. O entendimento que tive naquele momento era que o medo controlava nossas vidas e nosso mundo. “Nunca, ninguém poderia saber qual o meu maior medo. Nunca”. Prometi. Intuitivamente, pensei que não poderia deixar o medo me impedir de mudar minha vida.

De lá para cá se passaram alguns aninhos e essa vida foi muito prodigiosa em me testar com relação ao medo e quebra de barreiras.

Hoje, percebo com mais clareza o quanto o medo domina nossas vidas, controla os rumos de nossa sociedade, nos tornando prisioneiros de vontades alheias

Podemos não ter o Grande Irmão, mas temos uma rede muito mais sutil e dominadora.

Para combatê-lo só a ampliação da consciência. Deixar a preguiça de lado e pensar, sentir e ir além do mundo que nos cerca. Isso se faz de várias formas, uma delas é buscar informações e não esquecer de confrontá-las.

Mas, aviso: dá trabalho.




Esse outro é um documentário sobre 1984, 
o melhor que vi até agora. 

Um comentário:

  1. Mary Ma14:34:00

    Sandra
    vc me relembrou muitas coisas que passei tbm...
    e hoje concluo que o maoir
    e prejudicial medo
    que algue'm pode ter ,
    e' o medo de crescer,
    para poder * aparecer *.....rsss
    Bjs

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