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domingo, 9 de outubro de 2011

Afinal, tudo que é sólido está mesmo a se desmanchar


 
Tenho dito algumas vezes que se existe perigo de colapso no momento não é da estrutura física da Terra, essa independe de nossa vontade está seguindo o seu ciclo. Por isso, natural. O perigo está nas estruturas frágeis de nossa civilização, a começar pelo sistema econômico, onde se percebe os verdadeiros abalos que podem nos impulsionar a mudanças radicais, quem sabe uma dessas mudanças seja a nossa maneira de relacionamento com nosso meio natural.

Vejam, que construímos um mundo a parte de um outro mundo que existe independente de nós humanos, porém, é o que nos sustenta. Não soubemos nos relacionar em harmonia e integrados com esse mundo verdadeiro de bases sólidas e engrenagem perfeita, o trocamos por um modelo de vida baseado em ilusões, sendo a principal delas a de termos domínio sobre esse pequeno globo que vive na órbita de uma linda estrelinha chamada Sol.

Vivemos por alguns poucos séculos, principalmente no último, consumindo desenfreadamente nosso meio de vida - os recursos do planeta - sem nos importar com as consequências. Tudo em nome de um sistema econômico que estava fadado ao fracasso desde o início. É bom lembrar que desse consumo exagerado boa parte de nossa civilização esteve a margem, pois, para que todos aqui na Terra consumissem no mesmo padrão como o da chamada classe média, seria necessário uns quatro planetas para serem consumidos e destruidos.

Marx e Engel e outros pensadores já falavam desse possível colapso. No famoso Manisfesto Comunista tem um trecho que considero profético, se vemos profecia como um senso de observação aguçada que nos faz vislumbrar o que teremos a frente. Nele diz:

“Tudo o que é sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas”.

A solidez ao qual fazia referência era a das ideologias tão enaltecidas e preservadas em determinados momentos, as formas de governar, aos modos de produção e estruturas que pensamos serem sólidas. A história mostra que todas rompem-se e caem. Para eles, com o capitalismo não seria diferente, teria um ciclo que como de todos os anteriores chegaria ao seu final. Como vemos, vivemos de ciclos fechados que se esgotam em si mesmo. Falei disso no post anterior, Reaprendendo com as estrelas.

O erro desses pensadores foi pensarem na época que o sistema já estava morrendo e seria trocado por outro que chamaram de socialismo. Só que o capitalismo ainda tinha muito fôlego, duraria enquanto tivesse o que consumir, sendo esse o princípio pelo qual baseia sua estrutura: Consumir, consumir, consumir, em uma cadeia que devora a si mesmo.

Dando continuidade implantou-se em um certo momento a ilusão que consagrou o delírio pelo Ter e nele concentrou-se o Poder. Quem mais tem, obtém o Poder. Querer é Poder, não importando o que se queira. Então, na desenfreada modernidade, tinha-se que querer cada vez mais coisas, para alimentar a rede devoradora até o ponto de transformar tudo em supérfluo.

Para aumentar as possibilidades de consumo que não se sustentava mais em objetos, começou na pós-modernidade o consumo de conceitos, ideias, pensamentos, levando a um culto ao narcisismo e ao corpo. Não a saúde, mas a conceitos forjados de beleza que como tudo se desmanchava a cada estação. Nesse ponto a vida tornou-se superficial, até mesmo as relações humanas ficou ao nível da banalidade. Sem firmes alicerces fica mais fácil derrubar construções para colocar outra no lugar.

Mesmo assim, precisava de mais velocidade, essa é a palavra-chave na sociedade da informação. A informação passou a ser mais uma mercadoria de grande escala de consumo. Não precisa saber, não precisa entender, não precisa pensar, é só consumi-la e achar que se sabe alguma coisa.

A relação com o tempo muda e as relações entre pessoas passaram a se desenvolver em outras plataformas.

Nesse ponto o sistema caiu em uma armadilha, porque ao contrário do que propagava, o poder durante todas as épocas da história conhecida, nunca esteve nas mãos de quem tinha mais posses, mas sim, nas mãos dos detentores dos meios de acesso as informações e ao conhecimento. Sempre foi assim, desde o início da escrita. Mas, essa é outra história que talvez insira em meu blog qualquer dia.

Voltando ao início, exatamente agora que existe um colapso anunciado no sistema econômico, a Terra apresenta de forma mais acentuada as alterações climáticas. Será coincidência?

Mesmo que existam divergências entre cientistas do quanto colaboramos para isso, o certo é que estamos sofrendo as consequências desse mal relacionamento com o meio ambiente. Fomos no mínimo incapazes de manter uma integração com ele para nos adaptar aos seus ciclos.

Nesse momento também, o acesso a informação que foi disseminado aos quatro ventos, deu origem as redes sociais, onde vemos de tudo, inclusive pessoas com afinidades de pensamentos ao redor do mundo passando novos conceitos e organizando movimentos.

Elas já deram sinais de que não são fogo de palha, e mais um exemplo está sendo dado com os protestos contra Wall Street que se propagam pelos Estados Unidos e já cruzam o oceano Atlântico. Na Europa encontrará muito combustível para grandes explosões, onde países como a Grécia, Espanha, Portugal e Itália já enfrentam sérios riscos de um colapso econômico. Na Alemanha os protestos já estão sendo marcados.

A solidez desse sistema está evaporando pelo ar, não pelas chaminés das fábricas, como as imagens sugeridas pelos seus questionadores no século passado, mas pelo seu esgotamento e pela disseminação binária.

Como no conto de Matrix, a realidade está começando a permear as consciências humanas, gerando muita confusão de ideias, incomodos e medos desconhecidos. Caso isso aconteça que não teremos muitas escolhas, como não tiveram milhares de seres que viveram em condições de miséria em nosso planeta devido as desigualdade implantadas por esse sistema. A pilula vermelha será enfiada goela abaixo! Só resta saber como reagiremos, como enfrentaremos essas mudanças que irá terremotar nossas estruturas. 

Espero que a outra frase desse texto se tranforme em realidade: 

“e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas”, incluiria aqui: e com o seu meio ambiente.

Que a solidariedade e a lucidez finalmente se faça presente!

Deixo aqui um trecho da Declaração de Ocupação de Wall Street, onde diz o seguinte:

"Unidos como povo, reconhecemos a realidade: que o futuro da raça humana exige a cooperação de seus membros; que nosso sistema deve proteger nossos direitos e que, ante a corrupção desse sistema, resta aos indivíduos a proteção de seus próprios direitos e daqueles de seus vizinhos; que um governo democrático deriva seu justo poder do povo, mas as corporações não pedem permissão para extrair riqueza do povo e da Terra; e que nenhuma democracia real é atingível quando o processo é determinado pelo poder econômico".

Ou será que esse sistema ainda tem mais algum gás para ser queimado? Veremos!


E aqui a música We Are The 99%, de Jeremy Gilchrist, 
que se torna um hino do movimento de ocupação de Wall Street.

2 comentários:

  1. olá Sandra, Além do espaço-tempo em que vivemos, David Bohm considera a existência de um oceano de energia de outra dimensão, denominando-o de ordem implícita não manifesta. A Teoria Moderna sustenta, portanto, que o vácuo contém uma energia, até agora desconhecida dos físicos, por não ser captada pelos instrumentos da ciência.
    A matéria, segundo esta visão, não passaria de uma pequena onda nesse mar de energia. A ordem implícita ultrapassa aquilo que denominamos matéria.
    David Bohm denomina ordem explícita o espaço-tempo tridimensional onde vivemos, ou seja, o mundo material, o qual, na realidade, estaria separado por uma ilusão!
    A Teoria da Ordem Implícita
    Exposta por David Bohm
    A idéia básica da ordem implícita: “Em geral, a totalidade da ordem abrangente não pode se tornar manifesta para nós; somente um certo aspecto dela se manifesta. Quando trazemos essa ordem abrangente para o aspecto manifesto, temos uma experiência de percepção. Mas isso não quer dizer que a totalidade da ordem seja apenas aquilo que se manifesta. Na visão cartesiana, a totalidade da ordem, pelo menos potencialmente, é manifesta, embora não saibamos como manifesta-la por nós mesmos. Precisaríamos de microscópios, telescópios e outros instrumentos mais.

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  2. Anônimo22:21:00

    Colega tudo foi pensado minuciosamente para que pessoas esclarecidas como você cheguem a essa conclusão. Más não quer dizer que o problema criado de propósito, a título de se apresentar uma posterior solução que seja condizente com a "Realidade" essa pelo que já percebi seria outra se estivéssemos sujeitos ao simples contexto natural dos problemas... A ganancia das 13 famílias ah milênios ainda perdura...

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